Capítulo 3 - St Jean / Roncesvalles

Stairway to heaven (Led Zeppelin performed by Heart)

23/maio/2025

O primeiro dia de caminhada foi muito bacana. Posso até dizer que não podia ter sido melhor.

Acordei com o Coleman se preparando para sair às 6am. Como eu tinha comprado o café da manhã que seria servido somente às 7am eu saí um pouco mais tarde. O Guy não quis o café do albergue e parou em uma padaria a poucos metros de distância.

Iniciamos o Caminho por volta das 7:30am e logo na primeira curva ficamos em dúvida. Havia uma placa para um lado e os peregrinos todos estavam indo para o outro lado. Até pedi a duas garotas que eu achei que estavam indo para o lado errado para voltarem. Iniciamos a rota e cerca de 50 metros depois desconfiamos que estávamos errados. Pedimos desculpas à Jordan (americana) e à Suzana (polonesa que vive na Austrália) e voltamos ao caminho correto. As duas são ótimas pessoas e caminhamos cerca de 1 hora juntos, por um trajeto bem tranquilo. Quando paramos para tirar as blusas e beber água cruzamos uma moça bem alta, com um chapéu verde, com uma pena. Eu disse: “Nice hat!” Ao que ela respondeu: “Guess where I’m from based on the hat”. E eu repondi prontamente: “Australia”. Acertei em cheio. Ela se chama Halley se juntou a nós pouco depois.

Eu, Halley e Jordan

Subimos bastante por cerca de 1 hora e paramos para abastecer as garrafas d’água e descansar um pouco. Lá conhecemos uma kiwi chamada Anna e um alemão chamado Christoph. Como a primeira ia ficar hospedada naquele albergue, apenas o segundo se juntou a nós. Naquele momento estávamos em um grupo de seis.

Da esquerda para a direita: Anna, Guy, Jordan, Halley, Zuzana, Chris e eu

Voltamos a caminhar e descobrimos que a subida nem tinha começado. Imagina subir até 1430m acima do mar, partindo de 180m de altitude. Para quem quiser ter uma ideia é equivalente ao dobro da subida de Santos em direção a São Paulo. Foi muito, muito, muito difícil. Subimos acima da nuvens e fazia muito frio no alto do primeiro morro.

A Halley e o Chris eram os que puxavam a fila. A Suzana estava sofrendo com a mochila pesada. Fiquei muito satisfeito de ter deixado a minha em Roncesvalles.

Passados cerca de 5 horas chegamos ao ponto mais alto da trilha e paramos para optar sobre duas opções de descida. O caminho dos carros e bicicletas é 500m mais longo, mas tem asfalto. O caminho da floresta é todo de trilha, com muita sombra.

Optamos pelo segundo. Foi a descida mais cansativa da minha vida. Não só pela inclinação muito acentuada, como também pelo barro em praticamente toda a trilha.

Eu, Jordan e Guy conversando com um outro peregrino. A paisagem ao fundo dá uma idéia da altitude dos Pirineus.

Em certo momento peguei o celular para checar quanto faltava e o mapa dizia apenas 750m. Depois de cerca de 1km nada de terminar. Consultei novamente o mapa mostrava 750m restantes. A Suzana queria me matar com a informação e a Halley sequer conversava conosco tamanho o stress. A Jordan, que é a mais bem humorada tinha partido em disparada com o Chris.

Chegamos no albergue às 4 pm. Uma fila imensa de peregrinos aguardando por um banho e uma cama. Mas até que a fila estava bem organizada por alguns hospitaleiros, inclusive aquele que guardou minha mochila. Encontramos a Jordan, o Chris e até o Coleman. Estávamos desesperados por uma ducha, que por sinal foi muito boa, e marcamos de encontrar na porta do albergue para beber uma cerveja e comer tapas. Foi muito bacana, a conversa foi muito gostosa. Se juntaram a nós ainda a Alexandra (Inglaterra), a Maddie (Usa) e o Dylan (Usa). Formou-se uma gangue. Rsrsrs

Chegada no albergue, que na verdade é um imenso monastério adaptado.

Ficamos no bar até as 7:30pm e fomos assistir à missa dedicada aos peregrinos. Como foi em espanhol, acho que da turma só eu entendi o conteúdo. Até traduzi algumas passagens para a Halley que estava ao meu lado, mas não podia ficar falando durante toda a cerimônia. De toda forma, o que importa é a energia positiva que foi passada.

Às 9pm tive que fazer um call rápido com o RH do banco e depois liguei para minha filha. Às 10pm tem um toque de recolher no albergue e estou escrevendo o blog na minha cama.

Estou morrendo de cansaço e vou terminar por aqui. Amanhã tem mais.

Abraços e buen camino!

Obs: A música tema do capitulo foi escolhida dois dias antes. E optei por colocar no link a versão que o Heart tocou junto com o filho do John Bonham no rock’ roll hall of fame. O Robert Plant até chorou ouvindo a própria música interpretada pelas irmãs Nancy e Ann Wilson. Quem não gosta boa pessoa não é.

Capítulo 4