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Epílogo

  • alexnoguchi2
  • Jun 26
  • 4 min read

Updated: Sep 19

26/junho/2025


Para aqueles que pensam em fazer o Caminho digo o seguinte: venham, mas procurem vir sozinhos. Eu vejo o pessoal que vem em casal ou em grupo e realmente há muito menos interação com os demais peregrinos. E também não adianta nada vir querer conhecer um monte de gente sem saber falar inglês. Falar apenas português/espanhol vai limitar muito suas amizades. Ninguém dos EUA, Alemanha, França, Polônia ou Australia sabe falar espanhol. Eu mesmo servi de tradutor da turma diversas vezes.


Para mim a melhor parte do Caminho foi conhecer pessoas de diversos países e com as mais diversas histórias. Tinha de tudo. Conheci policial italiano, executivo romeno, atleta chilena, programador polonês, professora irlandesa, desocupados, etc. O mais bacana é que todo mundo é igual durante o Caminho. Dorme em albergue, come menu pelegrino, bebe cerveja e anda com mochila nas costas debaixo do sol até não aguentar mais. Ninguém te julga, não há preconceito racial, nem social, não há gente querendo tirar vantagem sobre os outros, nem más intenções. Você pode relaxar e curtir. Óbvio que sempre existe um ou outro peregrino meio escroto, mas é uma minoria muito pequena que geralmente acaba procurando outra turma.


Obviamente que o Caminho não é para qualquer um. Se você gosta de luxo e mordomia nem pense em vir. E aqueles que vivem no mundo das redes sociais e academia, também podem esquecer. Aqui a energia é diferente. Dentro do grupo, a pessoa que mais utilizou o celular provavelmente fui eu, por causa desse blog.


Deixo também um recado para aquela turma que está triste, em depressão e quer encontrar respostas milagrosas ou ter uma epifania durante o Caminho. Isso não existe. O Caminho vai te ajudar na limpeza mental, mas não vai te trazer respostas. O sofrimento e as privações pelas quais passam os peregrinos servem como um meio para meditar e aumentar a espiritualidade. Faço aqui um paralelo com jejuar. Quando estamos confortáveis demais, com barriga cheia, em camas confortáveis, no ar condicionado, ficamos preguiçosos e relaxados. Por outro lado, o sofrimento nos faz ficar em estado de alerta, mais concentrados e propensos a meditar ou entrar na zona de flow.


Sobre os motivos que levam os peregrinos ao Caminho, pelas conversas que tive com diversas pessoas, destaco basicamente dois. A grande maioria veio porque está mudando de vida (mudou de emprego, aposentou, se formou, divorciou, etc) e alguns poucos vieram por motivos religiosos (católicos praticantes, padres e seminaristas - sim, eu cruzei com padres e seminaristas fazendo o Caminho). Ninguém veio pelo desafio físico e nem para apreciar a paisagem ou a culinária (tal como dizem alguns sites malucos).


Em relação à parte física, entendo que qualquer pessoa não-sedentária consegue superar os 800km. Conheci pessoas com mais de 70 anos que cumpriram todo o roteiro em prazo menor que o meu. Basta cuidar bem dos pés para evitar bolhas e ajustar o ritmo à sua capacidade. Quem não consegue carregar a mochila pode despachá-la e existem diversos pontos de descanso. Obviamente que um fortalecimento de pernas, principalmente com foco nos joelhos e tornozelos é recomendável para evitar lesões, mas isso é meio que obrigatório para qualquer um com mais de 40 anos.


Ainda sobre a parte física, posso dizer que o maior problema não diz respeito à força bruta, mas à duração das caminhadas. Eu nunca tinha ficado 6, 7, às vezes 8 horas fazendo a mesma atividade. Isso não existe no mundo moderno. Quem tem 6 horas disponíveis para treino físico? O mental sofre muito quando, depois de andar por 3 horas, olhamos para o relógio e vemos que ainda faltam mais 2 ou 3 horas para chegar no destino.


Outra parte que pega no mental é a questão dos albergues. Dormir em beliches, com gente que ronca alto, tomar banho em chuveiros às vezes sem portas ou controle de temperatura, usar as mesmas 2 roupas durante toda a viagem, comer comida simples e conviver com gente com cheiro de peregrino. Quem me conhece sabe que não sou de frescura, mas sofri bastante com essa vida espartana.


Eu disse a todos e escrevo aqui que foi meu primeiro e último Caminho. Foi maravilhoso mas entendo que deve ser uma experiência única de vida. Talvez eu até faça outras trilhas no Brasil para conhecer pessoas com esse perfil de peregrino, mas não quero ficar buscando repetir o que vivenciei. Quero deixar guardado na memória tal como está para não estragar, pois foi perfeito e maravilhoso.


Provavelmente esse grupo nunca mais vai se reunir, mas todos vão se lembrar um dos outros para sempre. É algo muito mágico que somente o Caminho pode proporcionar.


FIM



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Obs: para compor esta musica o Steve Vai ficou dez dias jejuando para entrar em uma espécie de transe. Ele mesmo disse que alternava entre momentos de extremo sofrimento com momentos de euforia. “It was pure, infinite freedom of expression”. Quando ouvi a música pela primeira vez juro que achei que ele procurou imitar o som de trovoes com sua Ibanez de 7 cordas em alguns momentos.

Outra curiosidade é que o David Coverdale é quem fala a frase no final da música. O Steve Vai compôs a música quando ainda era guitarrista do Whitesnake, tendo inclusive performado a canção em alguns shows da banda antes de seu lançamento oficial no álbum solo “Passion and Warfare”. Para quem gosta de rock é um prato cheio.

 
 
 

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