Capítulo 25 - Foncebadón / Ponferrada
- alexnoguchi2
- Jun 14
- 4 min read
Updated: Sep 19
14/junho/2025
Cinco da manhã, nada diferente. Eu levantei às 6am e fui o penúltimo do quarto a acordar. Nesse aspecto foi bom porque quando voltei do banheiro já não havia ninguém dormindo e eu podia acender as luzes e me arrumar com calma.
Saí meia hora depois, como de costume, e logo cheguei ma Cruz de Ferro. Estava muita neblina e o Sol ainda estava escondido no meio das nuvens. Parecia filme de terror, uma cruz no meio da montanha com um monte de pedras em volta e pessoas posando para fotos. Deixei a minha pedra, rezei agradecendo pelos diversos anos de mercado financeiro e fui embora sem olhar para trás, tal como deve ser.

Logo em seguida encontrei a Kas e seguimos juntos por cerca de meia hora. Ela é muito bacana e madura para a idade (tem 23 anos). Sempre me faz perguntas inteligentes e procura aprender ao máximo com o pouco que tenho para ensinar sobre o trabalho em fundos de investimento e a dinâmica do mercado financeiro. Gosto de pessoas assim. Quando chegamos em uma lanchonete ela quis parar para descansar e eu segui em frente. Combinamos de nos encontrar em Ponferrada.

Caminho difícil, com cerca de 11km de subida leve, mas com muita neblina e diversas pedras soltas. Eu estava torcendo para que chegasse logo a fase de descida e me arrependi amargamente. Os trechos de declive eram bem curtos e íngrimes, com diversas pedras soltas. Condições ideais para torcer o pé. Fiquei sabendo depois que houve até um acidente com uma senhora idosa que teve que abortar o Caminho e voltar para casa. Segui com muita cautela usando os bastões o tempo inteiro. Foi muito cansativo, principalmente porque eu estava mal-acostumado com o longo trecho plano da meseta.
Vi alguns (poucos) peregrinos dando uma “roubadinha” e seguindo pela rodovia. Não posso condená-los, visto que o movimento de carros é muito pequeno e ninguém quer um tornozelo torcido.

Por sorte havia uma cidade bem no início do descenso chamada El Acebo de San Miguel. Parei no primeiro lugar aberto para comer e hidratar e descobri que o dono é um brasileiro de Campinas. Fiz uma pausa de uns 20 minutos e conversei com um casal de italianos de Modena. Eles estão fazendo o Caminho por sugestão de um dos filhos que terminou há dois anos.
Tomei coragem para seguir com a descida pois ainda faltavam 16km e cerca de 700m de altura. Passei batido por Riego de Ambrós e cheguei por volta das 11:30 na cidade mais bonita de todo o Caminho. Molina Seca. Meu Deus mas que cidade linda! Eu nem precisava parar, mas fiz questão de fazer uma pausa. Parei na praça principal, pedi um lanche e comi apreciando a cidade.

Infelizmente ainda tinha 6km para andar e retomei a caminhada por volta do meio-dia. Esse último trecho foi meio chato porque a cidade de Ponferrada é meio grande. Então é necessário passar por cerca de 3,5km de um trecho urbano até o centro onde ficam os albergues. Cheguei por volta de 1:30pm e encontrei no quarto uma garota deitada sozinha vendo tiktok. O nome dela é Joyce, de Taiwan, e estava no hotel pelo segundo dia porque passou mal durante o Caminho e tirou uma folga. Ela estava no bar logo após a Cruz de Ferro e teve que ser socorrida por uma ambulância e levada ao hospital. O médico disse que era apenas cansaço e recomendou repouso. No seguinte ela ia pegar um ônibus até Sarria, para evitar o Cebreiro (montanha). Conversamos bastante no quarto e depois continuamos no refeitório do albergue enquanto eu aguardava a máquina lavar minhas roupas. Ela é muito inteligente e simpática. Quando terminou o ciclo da secadora fui conhecer a cidade e a convidei a vir junto. Ela recusou gentilmente e ficou no albergue o dia todo repousando, seguindo conselhos médicos.

A poucos metros do hostel há um Castelo Templário. O Chris Polaco estava como Louis na porta e me esperaram para entrarmos juntos. O lugar é imenso e ficamos quase duas horas lá dentro. Como eu não queria andar mais fui o primeiro a sair e comecei a beber sozinho no bar bem em frente ao castelo. O Chris veio logo depois e também apareceu o Jesus, que estava aguardando o horário da missa. A Julia e o Leon me mandaram mensagem dizendo que estavam na cidade e queriam se juntar a nós. Impressionante pois fizeram quase 70 km em dois dias. Nos encontramos no final da tarde e matamos a saudade. Adoro os dois.

Quando deu 9pm eu decidi voltar para o albergue e parei rapidamente no mercado, onde encontrei o Coleman. Eu nem sabia que ele estava na cidade e ficamos de nos encontrar no dia seguinte em Villafranca del Bierzo. O dia deve ser relativamente tranquilo, com apenas 23km para percorrer. É bom pegar leve pois na próxima etapa teremos a temida subida do Cebreiro.
Por hoje é só pessoal
Buen Camino
Obs: o riff da música Wasted Years foi criada pelo Adrian Smith sem querer, enquanto ele testava um pedal sintetizador da Roland. A princípio ele não quis incluir o riff na música porque não soava como heavy metal, mas os demais integrantes gostaram e virou um dos grandes hits da banda



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