Capítulo 20 - El Burgo Ranero / Puente Villarente
- alexnoguchi2
- Jun 9
- 3 min read
Updated: Sep 19
9/junho/2025
Acordei sem despertador por volta das 5:40 com vontade de ir ao banheiro. Não fazia sentido voltar a dormir então comecei mais cedo. O sol estava escondido mas já havia claridade suficiente para andar sem lanterna. Até tirei umas fotos que achei bem bacanas. Vejam abaixo uma que escolhi.

Pouca gente dormiu na mesma cidade, pois não é ponto tradicional sugerido pelo gronze.com, nem pelos apps. Então consegui pegar trilha vazia durante quase todo o trajeto. O problema é que a primeira perna foi de 13km sem nenhum check-point. Eu parei depois de 2 horas (cerca de 8km) para comer uma maçã, em um banco no meio do caminho. Só encontrei um café/bar aberto na entrada de Reliegos. Comprei um monte de comida e tive que trazer metade do sanduíche na mochila porque era grande demais. Encontrei o Chris (Polônia) quando estava saindo então não conseguimos conversar muito.
Depois andei “apenas” 5,9km até ‘Mansillas de las Mulas’ onde parei para uma pausa um pouco mais longa. Essa cidade é ponto tradicional de pernoite, mas era muito pouco para um dia. Segui mais 6km até Puente Villarente, imaginando se seria possível chegar em Leon (12km a mais). Mas o calor estava implacável. Avisei a Alix por mensagem que não ia conseguir chegar em Leon de jeito nenhum. Ela me disse que ia tentar seguir além de Leon e me desejou boa sorte. Coloquei meu boné, reforcei o filtro solar e segui sozinho até Puente Villarente.

E eis que, quando estava quase chegando na cidade eu encontro a mulher misteriosa que anda no sentido contrário. Deve ter sido a quinta vez que a vi. Desta vez tirei uma foto para ter certeza de que não estava alucinando. Até conferi depois para verificar se não era fruto da minha imaginação. Fiquei de mostrar aos demais depois para ver se mais alguém a reconhecia.
Cheguei no albergue e logo encontrei o Leon. Fizemos check-in, tomamos banho e fomos beber uma cerveja. Nesse momento chegou o Chris que se juntou a nós. Falamos sobre música, arte, um pouco de tudo. Estávamos todos felizes e até mencionamos que o mundo seria um lugar melhor se todas as pessoas fizessem o Caminho. Ah, e eu já tinha comentado sobre a mulher misteriosa com o Leon e aproveitei para mostrar a fotografia. Na hora ele a reconheceu e me disse que a tinha visto dois dias seguidos também na mesma situação maluca, andando no sentido oposto aos peregrinos. Ou seja, eu não estava alucinando. E ele ainda tinha uma informação adicional. Disse que viu a moça descendo de um carro antes de começar a caminhada invertida. Nossa teoria é de que ela talvez seja uma voluntária que procura pessoas necessitando de ajuda pelo caminho. Como há muitos trechos onde não passam carros ela deve fazer uma vistoria ‘in loco’ quando necessário. É apenas uma ideia. O Leon disse que vai questioná-la na próxima vez que a encontrar.

Depois da cerveja eu pedi licença para pensar no roteiro do dia seguinte, pagar umas contas e resolver uma renovação de seguro viagem. Pois é, mesmo no Caminho ainda existem as obrigações mundanas a serem cumpridas.
Como ainda tinha uns minutos resolvi dar uma volta na cidade e foi a pior coisa que eu poderia ter feito. Estava um calor infernal. Eu tive que parar na sombra de um bar e beber algo antes de voltar. O lado positivo é que tomei a decisão de não andar amanhã no período da tarde. É inviável. Vou chegar cedo em Leon, deixar a mochila na recepção do hotel, conhecer a cidade, almoçar e obviamente beber uma cerveja. O restante da turma deve chegar por volta das 2pm e o Guy disse que vai cozinhar ‘shakshooka’ para nós.
O jantar foi com o Leon e um casal de australianos que começou no mesmo dia que nós. Eles são ciclistas mas fazem o Caminho a pé e disseram que também não apoiam essa turma das bikes elétricas. Mas enfim, cada um faz seu Caminho.

Boa noite, até amanhã
Buen Camino
Obs: o título e a letra da música da banda Boston tem tudo a ver com o Caminho. Eu também gosto muito da forma como os dois guitarristas conseguem dividir os solos de forma quase equânime. Quem já tocou em banda sabe como é difícil administrar os egos.



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