Capitulo 2 - Start me up (Rolling Stones)

The Rolling Stones - Start me up

21/maio

Chegou o dia do embarque. Agradeço aos amigos pelo bota-fora ontem. Foi muito especial. O Oliver foi direto do treino de tae-kwon-do e parecia um pai-de-santo. kkkkk. Já o Eric me deu um monte de utensílios e equipamentos. O Marui foi só para se despedir, nem jogou (não vai brigar com ele, hein Mami).

Agendei o taxi para 9:30am programando chegar no aeroporto por volta das 11am, para pegar o vôo às 14:10. O motorista chegou no horário e cheguei no aeroporto cerca de 20 minutos antes do previsto. Fiz o check-in em literalmente 10 minutos e às 11am eu estava livre. Na dúvida sobre despachar ou não a mochila, optei pela primeira opção, que considero mais conservadora. O atendente apenas me pediu para despachar a bagagem em outra esteira, para equipamentos “frágeis”. Não me opus, até porque a outra esteira não tinha fila nenhuma. Depois fui tomar café da manhã e, qual não foi minha surpresa, ao verificar o celular e descobrir que o Fujita colocou meu blog no grupo de WhatsApp do Cooper* (muitos de vocês estão aqui por causa disso). Fiquei morrendo de vergonha e reclamei com ele. Sabe qual foi a resposta? “E você tem vergonha de alguma coisa?” Fazer o quê, né?

Como tinha tempo de sobra comprei um livro chamado “A Vegetariana”, em uma livraria escondida no andar intermediário do terminal 3. Foi escrito pela koreana Han Kang, vencedora do nobel de literatura de 2024. Achei o livro tão interessante que li 2 dos 3 capítulos antes de embarcar. Decolamos às 14:15 sem grandes percalços.

* clube de campo que frequento desde que nasci, cujos sócios são na maioria de ascendência nipônica.

22/maio

Escrevi durante o vôo porque não consegui dormir. Esse trecho, por exemplo, foi escrito às 11pm de SP ou 3am de Madrid.

Tentei dormir mas consegui tirar apenas um breve cochilo. Até tentei assistir a um filme para ficar com sono, algo que sempre funciona em casa, mas não deu certo. Tive a infeliz ideia de assistir ao premiado ‘Anora’. O filme não é tão ruim, mas eu não sabia que a película tinha tantas cenas de sexo explícito. Eu estava sentado no corredor e durante uma das cenas picantes passou ao meu lado um garoto de cerca de 4 anos, de mãos dadas com a mãe, a caminho do banheiro. Eu só me lembro do menino olhando para a minha tela e a mãe dele virando a cabeça dele para a frente. 🤦

Agora estou ouvindo músicas antigas que tenho no celular. Sim, devo ser o único que ainda mantém musicas gravadas na memória do telefone. Sinceramente acho muito útil, principalmente quando vou viajar de carro e perco sinal de internet (na serra, por exemplo). Por conta disso tive várias ideias de nomes para os capítulos que estão por vir. Tem algumas musicas que estou ansioso para incluir neste blog.

***

Pousei no horário previsto, 5am. Minha bagagem demorou… Achei até que havia extraviado porque o airtag não estava funcionando. A ultima atualização tinha sido 11 horas antes, ainda em Guarulhos.

Depois de cerca de 1,5 hora aguardando, o airtag atualizou e mostrou minha mala bem perto de onde eu estava. Provavelmente a colocaram em algum container que bloqueava o gps porque foi despachada como “frágil”.

Peguei a mochila e entrei em um ônibus que faz um transfer direto do aeroporto para a estação de trem Atocha, por 5 euros. Até encontrei um torcedor do Tottenham que estava voltando para casa após a conquista a UEFA Europa League. O cara estava bem sujo e muito feliz. Cheguei na estação em 15 minutos. O problema é que comprei passagem para Pamplona com saída às 10:30am e ainda são 7:30am. Tentei trocar a passagem no guichê de atendimento ao cliente mas não consegui. Até pensei em comprar outro, mas eu não tenho pressa. Afinal agora sou um peregrino.

Peguei em café para aguardar o horário e fiquei lendo meus e-mails. Recebi uma mensagem muito bacana do Sakamoto. Muito obrigado meu amigo. Mas, como nem tudo são flores, também recebi uma mensagem que me irritou bastante. Trata-se de “invite” para fazer homologação da minha rescisão de emprego, por teams. Quando eu acho que consegui me livrar do banco eles aparecem para acabar com meu bom humor. Meu poder de negociação neste caso é zero. Vou apenas ouvir o que eles tem a dizer. Preciso me livrar desse engodo o quanto antes.

Entrei no trem para Pamplona que imaginei que seria semelhante aos trens de alta velocidade do Japão. Ledo engano. O trem é bem velho, apertado, não é muito rápido e atrasou bastante. De toda forma, me levou até onde eu queria e eu até consegui tirar um cochilo.

Saindo da estação peguei um táxi e fui conversando com o motorista o caminho todo. No caminho, pedi ao motorista para parar em Roncesvales, onde deixei minha mochila no albergue, com um hospitaleiro que não falava espanhol. Estranho, né? Também notei que todos os peregrinos estavam chegando acabados no albergue. Isso apenas confirmou minhas expectativas. Quando voltei para o carro e retomamos o trajeto notei que o trecho é bem longo mesmo, com muitas curvas bem acentuadas e grande variação de altitude. Deu para sentir o tamanho da encrenca que vou enfrentar amanhã. Os tão temidos Pirineus.

O taxista me deixou na entrada da cidade pois os carros não podem passar na Rue de la Citadele. Achei o albergue facilmente e fiz check-in. Comprei vaselina para os pés e os sticks para a caminhada. A cidade de Saint Jean é bem charmosa, construída dentro de um feudo, às margens de um rio. Tem até um pequeno castelo com ponte e tudo.

No albergue conheci um israelense que vive na Romênia chamado Guy e um americano chamado Coleman. Ambos são muito bacanas. Conversamos por bastante tempo antes de dormir. O israelense tem 52 anos e trabalha com videogames. Trabalhou inclusive na EA. E o americano tem 28 anos e acabou de se formar na faculdade. Amanhã a cerveja pós-Pirineus promete.

Capítulo 1

Capítulo 3