Capítulo 13 - Belorado / Atapuerca

Rain - The Cult

2/junho/2025

Hoje acordei tentando não fazer barulho porque havia mais 5 pessoas no quarto e fui o 2o a acordar. Arrumei as coisas e parti para a caminhada diária por volta das 6:30am. Não estava chovendo mas estava frio. Tive que usar com a jaqueta corta-vento (anorak) por todo o caminho. Não sou de fazer propaganda, mas as roupas da Columbia são realmente sensacionais. Recomendo.

Ontem, pouco antes de dormir eu descobri que o pessoal do grupo tinha alterado o destino de San Juan Ortega para Altapuerca, o que significava cerca de 6km adicionais. A princípio eu fiquei meio triste mas topei o desafio. Aproveitei também para usar o serviço de entrega de mochilas. Mas como não tinha feito nenhuma reserva mandei entregar a mala em um albergue que não aceita reservas. Era a melhor alternativa. E deu certo.

Com 7kg a menos nas costas eu estava voando. Uma fina garoa começou a cair, mas nem tirei a capa de chuva. Apenas coloquei o capuz da jaqueta. Cheguei rapidamente na cidade de Tosantos para tomar café da manhã mas encontrei tudo fechado. Então segui para a segunda (Villanbistia) e terceira (Espinosa de Camino) cidades e a situação foi idêntica. Ainda bem que eu tinha um sanduíche e uma maçã na mochila. Que me sustentaram até umas 10:30am.

Garoa bem fina

Consegui encontrar uma lanchonete aberta apenas na 4ª cidade (Villafranca Montes de Oca), onde comi um cachorro quente e bebi uma coca-cola. Encontrei a Hannah por lá e logo depois apareceram o Chris, a Zuzana e o Guy. Não esperei por eles porque estava com receio da garoa piorar e havia uma subida de 200m de altura pela frente.

Muito barro nas trilhas

A subida realmente era realmente nem íngrime, mas nada de mais se comparado aos Pirineus. O problema maior, que o Gronze.com não menciona é o intervalo longo dessa ultima perna, de 12km, sem nenhum ponto de abastecimento nem área de descanso. Mesmo sem mochila foi uma tarefa dura.

Ao chegar em San Juan aproveitei para fazer uma pausa maior. Comi mais um sanduíche (o 3º do dia), tomei um isotônico e conversei com duas americanas, Rosie (professora) e Cha-cha (policial), da California. Elas são aposentadas não ficam em albergues, o que limita muito as opções de hospedagem. Por isso não encontraram lugar para ficar na cidade e iam pegar um táxi até o hotel mais próximo que conseguiram. No dia seguinte vão pegar novamente um táxi para reiniciar a caminhada exatamente no mesmo ponto em que haviam parado. Achei interessante a ideia e guardei a sugestão para uma eventual necessidade.

Quando estava saindo para os últimos 6km um casal me abordou para conversar. Fomos em ritmo leve até Agés (3,6km) conversando. Ele é albanês mas vive no Kentucky com a esposa que é americana. Descobri que ele investe em algumas ações no Brasil e me perguntou sobre o Nubank. Passei a ele minha opinião e depois disse que não queria falar mais sobre mercado financeiro porque eu estou fazendo o Caminho exatamente para me libertar desse mundo. Falamos então sobre futebol, casamento e outras amenidades.

Cheguei em Atapuerca por volta das 2:30pm e notei que o albergue para onde havia enviado a mala era o primeiro da cidade. A recepção estava fechada e ninguém atendia a campainha. Liguei no número que estava na janela da recepção e a moça veio me atender (devia estar na ‘siesta’).

Ela me levou até o quarto onde encontrei um ‘nihonjin’ (japonês) chamado Uchida-san, de 74 anos. de Kanagawa. Quando eu falei o pouco que sei de japonês ele na hora perguntou se eu era brasileiro. 🤪 Disse que meu nome era “Noguchi” e ele me apresentou todo contente para outros 4 nihonjins, que estavam em outro quarto.

A primeira coisa que fiz foi lavar as roupas sujas. Como o ciclo era de apenas 30 minutos eu deitei na cama para esperar. O Uchida-san veio me dar uma bronca dizendo para eu ir tomar banho. 😆 Eu expliquei que iria assim que terminasse de lavar a roupa. Deixei a roupa secando e tomei uma ducha bem demorada e gostosa. Depois acompanhei a Maddie e a Jordan até o mercado e almocei em uma lanchonete da esquina.

As meninas pediram um quarto duplo mas acabaram ficando com um apartamento inteiro, com sala e cozinha. só para elas. Como ainda estava garoando eu fiquei no sofá delas escrevendo meu blog até o horário da “festa de aniversário do Penny” (cachorro da Jordan). Teve vídeo conferência, snacks e até parabéns em diversos idiomas. Esse foi o ponto alto do dia.

Comemorando o aniversário do Penny

Voltei há pouco para meu quarto e falei com a Naomi, que está nas ultimas semanas de escola. Ela também vem para a Espanha nas férias mas não vamos nos encontrar aqui. Vamos nos ver somente no Brasil, no final de julho.

Amanhã temos uma etapa relativamente fácil, de menos de 20km, até Burgos, com previsão de chuva apenas no final do dia. Eu até pensei em puxar outra perna longa para aproveitar o embalo, mas a próxima cidade fica a 10km. Acho que não aguento 2 dias seguidos de 30km.

A notícia triste do dia fica por conta do Chris, que reservou hotel na cidade errada, que fica a 3km de distância. Confundiu “Altapuerca” com “Olmos de Altapuerca”.

Por hoje é só pessoal. Amanhã tem mais.

Buen Camino!

Obs: a música de hoje foi escolhida por motivos óbvios. The Cult é uma de minhas bandas favoritas e o guitarrista me faz querer voltar a tocar em uma banda. Quem sabe quando eu voltar da viagem…

Capítulo 14 - Atapuerca / Burgos